AFINAL, O QUE FAZ O BIBLIOTECÁRIO?
Oswaldo Francisco de Almeida Júnior
Há muitos anos ministro (ou ministrava) uma disciplina oferecida no primeiro semestre do curso de Biblioteconomia: Fundamentos da Ciência da Informação e da Biblioteconomia. Invariavelmente, boa parte dos alunos desconhecia a área e, como seus colegas, amigos e parentes, tinha dificuldade até mesmo para pronunciar o nome do curso. É mais do que conhecida a recorrente frase apresentada em sala pelos ingressantes, referindo-se à surpresa dos que lhes perguntam que curso estão fazendo: “Biblio... quê?”.
Alguns escolhem o curso por conhecerem bibliotecários ou por terem lido algo sobre a profissão. Em ambos os casos, também possuem uma visão restrita do fazer do bibliotecário. Há os que optaram pela profissão por gostarem de ler (um número muito significativo dos ingressantes), outros porque a concorrência no vestibular era menor, ainda outros porque leram algo sobre o curso, tanto em jornais como em manuais veiculados pelos organizadores de vestibular. De qualquer forma, a maioria inicia os estudos com pouco ou nenhum conhecimento das atividades, atribuições, trabalhos, necessidades, competências etc. do profissional.
Quando se encontram com amigos, mesmo depois de alguns semestres cursados, a maioria dos alunos sempre têm dificuldades para explicar, sucintamente, o que faz o bibliotecário. Titubeiam, gaguejam frente a perguntas do tipo: “O que você vai fazer depois de formado? Vai trabalhar aonde? Quais serão suas tarefas? É preciso 4 anos de estudo para fazer isso? Afinal, o que faz um bibliotecário?”.
Pretendia, como professor da disciplina, que ao final do semestre os alunos pudessem responder a essa pergunta. No início das aulas eu apresentava uma síntese do que entendo ser o fazer do bibliotecário, mesmo que o entendimento da amplitude desse fazer não ficasse tão claro. Esperava que durante o semestre, com as discussões, leituras etc., os alunos pudessem terminar a disciplina com uma ideia mais apropriada sobre o tema.
Toda tentativa de síntese é sempre simplificadora, mas, mesmo correndo esse risco, vou apresentar o que entendo ser o fazer do bibliotecário:
O Bibliotecário é o profissional que medeia a necessidade informacional e as informações que satisfaçam essa necessidade.
Muitas outras ações estão embutidas, implícitas nessa síntese. A necessidade informacional de um usuário ou de um conjunto de usuários deve ser conhecida ou, ao menos, procurada. As informações que satisfazem uma necessidade informacional estão espalhadas, perdidas no universo informacional. É preciso organizá-las, armazená-las, prepará-las para que possam ser recuperadas. É voz corrente na área que muita informação é não-informação, que informações não organizadas são não-informações. O espaço onde ocorre a mediação não precisa ser, necessariamente, físico. Hoje, discutimos como atingir o usuário que não frequenta os espaços físicos da biblioteca, do centro cultural, dos equipamentos informacionais. Como atingir o aluno que faz suas pesquisas escolares sem utilizar os espaços da biblioteca, pesquisando apenas em sites, blogs, googles e outros espaços virtuais?
A mediação não ocorre apenas no “atendimento” ao usuário, no Serviço de Referência e Informação. Ela está presente em todas as ações do bibliotecário. Nas relações que exigem e pedem a presença do usuário, fisicamente ou não, estamos no âmbito da Mediação Explícita. Já nas ações em que essa presença não é obrigatória, como nos fazeres relativos ao armazenamento e organização, estamos no âmbito da Mediação Implícita.
Importante lembrar e deixar claro: a mediação não é um momento, mas um processo. Ela envolve não só o usuário, o bibliotecário, como também o “produtor” da informação (ou da protoinformação, como prefiro chamar), os suportes com os quais o bibliotecário lida, o equipamento informacional (físico ou não), o momento em que todo o processo acontece (não um momento determinado) e a informação. Nenhum dos “personagens” elencados é neutro, isento, imparcial. Pelo contrário, todos interferem, pouco ou muito, na apropriação da informação.
Claro que este não é um tema para ser discutido em um espaço curto, mas deve ser constantemente apresentado, pois, acredito, os fazeres do bibliotecário, assim como os de qualquer profissional, se modificam, se transformam sempre, atendendo as mudanças e transformações da sociedade.
http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=741
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