terça-feira, 20 de março de 2018

NOTA DE REPÚDIO


O Conselho Regional de Biblioteconomia da 10ª Região vem a público manifestar seu repúdio à matéria veiculada no Portal G1, em 12 de março de 2018, intitulada “Os Privilégios do funcionalismo”, de autoria do Sr. Helio Gurovitz
Na matéria, o jornalista disserta, de forma generalista, a respeito de pretensos privilégios do funcionalismo público, citanto, especialmente, a estabilidade e “pinduricalhos” concedidos a poucos, como auxílio moradia, aposentadoria especial, “prêmios”, entre outros, como se estes “privilégios” fossem percebidos por todos os servidores públicos. Utiliza, na sua argumentação, dados retirados de análise precariamente referenciada, manipulando-os de forma superficial para fundamentar suas ideias e atribuir-lhes ares de verdades absolutas. Ainda defende a descabida tese de que os servidores, ao escolherem fazer carreira no serviço público, deveriam sujeitar-se a receber remuneração inferior à iniciativa privada, como se “servir ao público” fosse um sacerdócio, em troca de outros benefícios, como a mencionada estabilidade.
Mas o mais grave, no entender do CRB-10, é o ataque explícito a determinadas categorias profissionais, quando, ao contestar a validade da estabilidade, afirma que para algumas profissões, de “bibliotecário a faxineiro”, esta estabilidade não faz sentido, como se fossem profissões inferiores, descartáveis. Também dispara contra professores e policiais, que estariam entre os mais privilegiados, devido à aposentadoria especial, ignorando a privações impostas a estas importantes profissões, no que diz respeito à remuneração e condições de trabalho.
Reconhecemos e defendemos intransigentemente o direito à opinião do referido jornalista. O que assusta é que, num país carente de educação, cultura, remuneração justa (a maioria dos servidores públicos de carreira ganha pouco), um formador de opinião manifeste preconceitos disfarçados de soluções para problemas conjunturais do País que não tem sua origem nas atividades públicas, muito menos em certas carreiras profissionais.
E nenhuma palavra sobre os demandos das classes dirigentes, perpetrados por políticos em funções de “servidores” comissionados, causa verdadeira da quase insolvência econômica e social do País. Estes sim bem remunerados e com inúmeros privilégios. Mas esta não é a realidade do serviço público, sem voz e constantemente vilipendiado. Em especial para carreiras menos luzidias. Só o preconceito justifica desqualificar o trabalho de faxineiros, sem os quais não haveria ambiente salubre para o exercírcio de qualquer atividade pública ou privada.
Igualmente lamentável a manifestação do jornalista a respeito da profissão de bibliotecário. Certamente, o Sr. Helio Gurovitz desconhece que esta profissão está regulamentada há mais de 50 anos e que surgiu no País há mais de 70 anos, exatamente por clamores no serviço público, para qualificar atividades de estado, como educação e cultura. Apesar de ser profissional da comunicação, o jornalista também ignora os novos tempos, representados pela sociedade do conhecimento, onde a ciência da informação e as profissionais dela oriundas têm papel essencial. Sequer imagina que a organização da informação, mesmo que incipiente no País por falta de investimento e de contratação profissionais qualificados, passa necessariamente pela atuação dos bibliotecários. Sem falar na importante contribuição dos bibliotecários ao ensino e pesquisa em todos os níveis, à difusão da leitura e à formulação de políticas públicas para a área.
Mesmo que a desinformação do jornalista expresse, acima de tudo, uma caracteristica pessoal, numa atividade em que a pesquisa e recuperação de informação confiável para a produção de uma coluna seja um pressuposto, é inadmissível o desrespeito demonstrado quando faz referência a outras profissões. Cabe ressaltar, também, a responsabilidade ética de profissionais da informação que difundem, de forma indireta, opiniões depreciativas sobre outras pessoas ou categorias.
O Conselho Regional de Biblioteconomia da 10ª Região espera, portanto, por uma reparação pública ao dano causado à imagem do bibliotecário, uma vez que ele reforça um estereótipo ultrapassado, que nada tem a ver com o desenvolvimento atual da profissão. E espera que, no futuro, o jornalista e o órgão de imprensa que ele representa informem-se antes de emitir opiniões ou aprovar publicações sobre os bibliotecários e suas funções. Pelo bem da sociedade, a quem estes profissionais prestam relevantes serviços.

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